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Grand Theft SpellJammer! – terceira parte

Se tem uma coisa que a gente sabe fazer é uma entrada espetacular.

O portal abriu exatamente no meio da enorme sala de controle do SpellJammer iluminada tenuemente pelo brilho fantasmagórico do phlogiston do espaço lá fora, e avançamos imediatamente em meio a uma onda de destruição.

Deixei o Paladino ir na frente para passar por cima dos umber hulk derrubando um atrás do outro com a Vingadora Sagrada enquanto eu ia flechando os neogi confusos a medida que caiam das costas dos monstros. A Barda tocava o alaúde com acordes que estremeciam o chão e faziam os Devoradores de Mentes se retorcerem em agonia e, claro, o Mago Xan descarregava relâmpagos pra todo lado provocando uma devastação inacreditável.

-Tranquem a porta!! – ordenou jogando pro lado o corpo carbonizado de um Ilithid para deixar livre o controle do Elmo do SpellJammer. Aquilo era enorme… Havia sido feito para propelir o maior navio voador do universo e duvido que houvesse um ser humano que conseguisse fazê-lo se mover…

O Paladino e eu nos aproximamos da base do Elmo enquanto o Mago se posicionava para tomar o controle, a estranha estrutura começou a vibrar e brilhar imediatamente, absorvendo todo o poder mágico dele. Pelas janelas de diamante era possível ver dúzias de navios aranha e nautiloids enxameando por toda a parte e se virando para atender aos pedidos de socorro que recebiam enquanto os mercenários Giff esmagavam a resistência.

-Os Giffs são durões – era o maior elogio de que o Paladino era capaz -. Como você os convenceu a se unirem a essa batalha, Ranger?

-Falei que eu estava por aqui… faz um tempo que eles estão tentando arrancar meu couro…

-O que você fez para irritar a maior guilda de mercenários do universo? – ele arqueou uma sobrancelha com ar de desaprovação.

-É uma longa história que inclui cassinos e prostitutas… não quero falar sobre isso agora…

-Vamos com isso, gente. O show não pode esperar!!! – enquanto falava, os dedos da Barda já corriam furiosamente pelas cordas do alaúde fazendo a sala estremecer novamente e concentrando as energias mágicas que imbuíam o Elmo e começavam a mover o SpellJammer pelas nuvens de phlogiston -.

-Adeus, velho amigo – sussurrei enquanto deixava meu arco, mais velho que a maioria dos reinos de Faêrun sobre a plataforma do Elmo. As runas mágicas brilhavam poderosamente em meio a toda aquela magia acumulada no ar. O Paladino fez um gesto de aprovação e levantou a Vingadora Sagrada se preparando para golpear.

Tudo ficou parado por um instante: o Paladino, com a armadura prateada refletindo o brilho esverdeado do phlogiston; o Mago, em transe enquanto sua mente se fundia com o SpellJammer; a Barda, estremecendo com os acordes da sua música e os cabelos esvoaçando em meio à  ventania mágica…

A Vingadora Sagrada golpeou o arco e o Universo explodiu.

Fomos jogados para trás enquanto a magia liberada pela destruição das armas varria tudo um instante antes de ser canalizada pela música da Barda em direção ao Elmo controlado pelo Xan. A súbita sobrecarga jogou o SpellJammer pra frente atropelando os navios inimigos que se preparavam para atracar e provocando uma série de explosões devastadoras e as estrelas lá fora começaram a se dobrar e se estender de formas estranhas nas janelas.

-Que os deuses me perdoem… deu certo, Ranger! – o Paladino levantou com a armadura amassada pelo tranco -. O que fazemos agora?

-Bora pra Rocha de Braal – respondi, esfregando as mãos -. Aposto que a gente consegue uma boa grana por este negócio…

 

 

Criaturas de SpellJammer

Com um universo inteiro para povoar, designers de Dungeons and Dragons puderam dar vazão às ideias mais malucas que povoavam suas mentes doentias. SpellJammer é infinito, estranho e às vezes maravilhoso ou assustador. Com uma pegada que incluiu Piratas do Caribe retrô, Star Wars, Star Trek, Alien (sempre escrevo “Aline”, Freud explica… -.-‘), The Thing e uma pitada de Lovecraft, é possível que uma aventura passe da alta fantasia de todo o dia para o horror cósmico em poucos minutos. Então vamos dar uma volta no zoológico:

Giff

giff

Da série “but… why?” que incluiu o apavorante “Coelhopato“, alguém achou que ia colar criar uma raça de mercenários hipopótamos brutamontes esperando um bom contrato para cair em cima de seus inimigos. Ou correndo atrás de você por alguma dívida, vai saber… -.-‘

Os Giff vagam pelo universo em grupos alugam sua força em troca de um pagamento justo e podem virar uma batalha como força de choque. Só não peça inteligência. Não rola.

Como a maioria das criaturas de SpellJammer, os Giff foram criados para outro setting, Mystara, e adaptados como uma raça errante espacial com um mundo natal meio lendário que ninguém sabe onde fica.

Beholder

beholder
Oi!

Um clássico incontestável. Os beholder de SpellJammer são absurdamente poderosos, tripulando naves protegidas por campos antimagia e só não conquistam essa porcaria toda porque estão envolvidos em uma colossal guerra eugênica. Cada facção beholder, dividida por coisas tão banais como a cor da pele (que espécie idiota) tenta destruir todas as demais e meio que ignora todo o resto.

 

 

Neogi

neogi

Aberrações nojentas e sociopatas que acreditam que tudo que existe é deles, os Neogi são escravocratas que vivem em uma sociedade absolutamente corrupta e cruel. Se puderem, escravizam, se não der, matam. O próprio ciclo de vida dos neogi é apavorante: os que alcançam a velhice entram em um acelerado processo de senilidade e muitas vezes são atacados pelos outros neogi que injetam neles seu veneno natural provocando a paralisia e, depois, usam seus corpos para chocar seus ovos!!! Os neogi são covardes e traiçoeiros, usam seus escravos como força de choque e costumam cavalgar umber hulks durante os raids sobre contra comunidades desavisadas. As naves neogi tem forma vagamente aracnídea com longas patas que prendem as presas no espaço.

Illithid

illithid

Os Devoradores de Mentes estão aí desde a primeira edição de D&D e não escondem a sua inspiração cthutulhiana. Aberrações que dominaram o u n i v e r s o i n t e i r o no futuro, eles tiveram que fugir para o passado (e complicado…) para escapar da quase extinção provocada por uma rebelião de escravos. Agora eles vagam por pelo espaço e levantam impérios subterrâneos com planos amadurecendo lentamente, conscientes que o universo inteiro estará em suas mãos novamente um dia. As naves illithid tem forma de moluscos gigantescos com tentáculos que podem prender adversários preparando uma abordagem ou formar um esporão capaz de perfurar ou partir ao meio um navio voador.

spelljammer

 

Tem mais vídeo!

Esta é a continuação destes artigos AQUI e AQUI

O SpellJammer

Uma estrutura misteriosa e ancestral, O SpellJammer vaga pelo universo sem tripulação. Muitas espécies e poderes disputam seu controle mas as lutas os perigos desconhecidos que guarda essa fortaleza deserta impede que qualquer se aproprie dele por muito tempo. Seus construtores, seu propósito ou o motivo de vagar abandonado permanecem um mistério. Surge e desaparece de forma aparentemente aleatória nos mais diversos lugares e se interior guarda riquezas e artefatos inacreditáveis.

O SpellJammer
Sem banana pra escala, desculpem

 

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Grand Theft SpellJammer! – segunda parte

Era difícil acompanhar os movimentos da figura sinistra que se aproximava de mim com movimentos sinuosos. A escuridão era quase total dentro do casco quebrado do nosso barco voador e eu tinha apenas vislumbres da pele lustrosa refletindo a luz das estrelas visíveis pelas grandes brechas nas paredes e teto. O rosto da criatura era uma massa líquida de tentáculos que se retorciam nervosamente. Ele passou praticamente do meu lado… eu poderia ter tocado no seu manto se estendesse a mão e a mera proximidade do Devorador de Mentes provocava estranhas visões de estrelas mortas e loucura. Retesei ainda mais o arco com duas flechas na corda e esperei o segundo monstro passar por mim. Os acordes distorcidos do alaúde da Barda estavam ficando cada vez mais estridentes enquanto ela usava a música pra manipular de alguma forma o poder do Elmo do nosso barco mágico para cegar os poderes mentais dos Illithids. Para eles era como se não estivéssemos ali…

Meus cabelos se eriçaram quando vi as criaturas que seguiam os Illithids, os grotescos animais que corriam pelo chão… cêrebros com patas que pareciam farejar nossos pensamentos….
A Barda fez um gesto com a cabeça pedindo para nos apressarmos, o esforço de manipular a poderosa magia do Elmo a estava esgotando rapidamente. Vi o Paladino se movendo ruidosamente e se posicionar para atacar os últimos dois Devoradores que subiam no convés enquanto o Mago gesticulava convocando um feitiço. A música falhou por um momento. Os quatro monstros se agitaram percebendo nossa presença em meio às ondas mágicas emanadas pelo motor do barco voador.

-Agora! – soltei as duas flechas que acabaram em um instante com os inimigos mais próximos. O Mago liberou uma corrente de relâmpagos que varreu os farejadores que vagavam pela sala e o Paladino despachou outro Illithid com um movimento da Vingadora Sagrada. Mas o último deles fixou os olhos negros em mim e se moveu com uma velocidade apavorante na minha direção estendendo os tentáculos faciais para meu rosto.
Tentei puxar as espadas mas já era tarde…

KABONG!!!!

O alaúde se espatifou no rosto do Illithid jogando-o para trás e o Paladino acabou com ele em um instante.

– O-Obrigado…

A Barda olhou o instrumento destroçado pendendo pelas cordas e soltou um suspiro.

-Como você conseguiu nos ocultar deles? Manipulou as armônicas do Elmo ou algo assim?

-Ah… Você não ia entender.

-Porque não sou bardo?

-Porque é burro.

Por isso eu prefiro a companhia de bichos.

-Acho que não há mais nenhum deles por perto, Ranger – o Paladino olhou para o terreno rochoso ao redor. À distância era possível ver as torres da fortaleza que encimava o lendário SpellJammer, e os movimentos de barcos voadores Illithid e dos escravagistas neogi. A paisagem era iluminada pelas estrelas distantes e pela luminosidade fantasmagórica da densa nebulosa de phlogiston que atravessávamos.  – Mas estamos presos aqui sem o barco voador.

-Oras, estamos sentados no maior barco mágico de todos os tempos. Porque não ficamos com ele?

O Mago, o Paladino e a Barda me olharam com curiosidade esperando para ouvir meu grande plano pra sequestrar o SpellJammer e voltar para casa com os tesouros inimagináveis que ele guardava.

Eu não tinha nenhum, óbvio, mas detesto decepcionar as pessoas, então comecei a falar exibindo meu melhor sorriso de negócios…

O cenário

Pequeno vídeo para mostrar a caixa básica do cenário. Comprei pelo preço absurdo de R$12…

Esta é a continuação deste artigo AQUI

Os mundos

O universo de SpellJammer está pontilhado de esferas de cristal chamadas de… Esferas de Cristal… Cada uma delas encerra planetas ou sistemas solares inteiros e foram construidas por poderes desconhecidos. Alguns sábios especulam que os deuses as criaram para proteger seus mundos das tempestades de pholigston que arrasam tudo em seu caminho e outros acreditam que foram feitas por um poder além dos deuses para mantê-los confinados por alguma razão. Poderes e magias relacionados com divindades podem enfraquecer ou ser alterados enquanto se navega pelo phlogiston.

As esferas de cristal são gigantescas e indestrutíveis (até onde se sabe… hehehe) mas possuem aberturas naturais ou magicamente criadas que permitem a passagem de veículos e criaturas. Algumas esferas tem portais ativos, outras reagem aos barcos mágicos que percorrem o universo e se abrem naturalmente outras ainda exigem magias, comandos ou só abrem em circunstâncias especiais. Criaturas como dragões e o lendário SpellJammer possuem o poder de criar passagens nas esferas à vontade.

Os Elmos

helm

Os barcos mágicos que percorrem o espaço são basicamente veículos comuns equipados por um dispositivo chamado de O Elmo. Ele permite transformar magias em força motriz. Quanto maior o nível da magia, mais veloz a viagem ou mais longo o alcance. Durante a navegação o operador fica impossibilitado de lutar, tendo que se concentrar na navegação e as magias consumidas se recuperam no ritmo e pelos meios usais (clérigos rezando, magos estudando). Espécies que não usam magia tem as suas próprias tecnologias: Os anões propelem as suas fortalezas construidas em asteroides com Forjas que convertem a energia usada na criação de itens em movimento. Os Devoradores de Mentes, usam energia psiônica com dispositivos parecidos aos Elmos mas conectados em série para permitir que vários operadores reúnam seu poder. Por outro lado, os perigosos beholder criaram sua própria versão de Elmo para impulsionar uma colônia pelos abismos do espaço: o Orbus, um beholder modificado para servir apenas a esse propósito. O interessante com eles é que não tem vontade própria, então podem ser capturados e usados por outras espécies, coisa que os beholder tentam evitar a qualquer custo evidentemente.

A Rocha de Bral

Na caixa básica de SpellJammer é oferecida uma localidade onde situar as campanhas: um asteroide que até poucas décadas atrás era um covil de piratas e agora se tornou uma florescente cidade comercial chamado de A Rocha de Bral, onde se encontram todas as espécies e se preparam aventuras ou se tramam conspirações que vão afetar muitos mundos. Sua superfície e subterrâneo ainda permite ver as marcas de sucessivas ocupações por diversas espécies e esconde muitos segredos que podem desencadear eventos cataclísmicos

A Rocha de Bral

Um grupo de fãs malucos de SpellJammer fizeram um mapa insano do universo que permite observar as esferas de influência de cada espêcie e as correntes de pholgiston usadas como rotas comerciais (sério… que incrível). Confira!

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SpellJammer – 1ª Parte

Grand Theft SpellJammer! – primeira parte

Adoro finais felizes…

Queria ver um deles de vez em quando…

O convés estava em chamas, com destroços e corpos espalhados por toda parte. Eu corria evitando com dificuldade as manchas de óleo incendiadas e esquivando os ataques dos enormes umber hulks que projetavam as mandíbulas de tenaz em minha direção, tentando pegar uma lembrança. O chão estremecia e vergava sob o peso das criaturas, e estávamos ficando sem espaço para lutar…

Os escravos que havíamos resgatado rezavam aos gritos e amaldiçoavam a hora que os havíamos tirado das celas. Atrás de nós, a arraia gigantesca, ao mesmo tempo navio espacial e fortaleza inexpugnável, conhecida como Spelljammer, em cujas masmorras cheias de armadilhas, eles haviam sido obrigados a procurar tesouros, ia ficando mais e mais para trás e sumindo em meio à nevoa fantasmagórica do phlogiston, mas um enxame de navios em forma de aranha levantava voo para nos perseguir.

No fundo do convés, como última linha de defesa protegendo o leme onde nosso mago controlava o navio com o auxílio do Elmo, a Barda dedilhou o alaúde libertando uma série de acordes frenéticos. Ao mesmo tempo que meu coração dava um pulo com ânimo renovado, os monstros detiveram seu ataque, subitamente confusos.

Tínhamos os segundos de que precisávamos…

-Acerte os neogi, Ranger!!! – bradou o Paladino avançando com a Vingadora Sagrada relampejando contra o monstro mais próximo. A pesar de perigosos, os umber hulks eram apenas montaria dos escravagistas neogi, a escória do universo. Desconcertados pela paralisia de seus escravos, os pequenos monstros arregalaram seus olhinhos negros para nós, do alto das selas nas cabeças dos monstros, apavorados pela repentina desvantagem. Puxei da aljava uma flecha atrás da outra e as vi voarem certeiras contra os desgraçados enquanto o Paladino derrubava os gigantes que ainda lutavam.

A batalha havia virado. Fiz um gesto de reconhecimento pra barda.

-You rock!!

Ela afastou o cabelo moreno da testa suada e sorriu de volta.
-Disponha, seu ridículo… – e então olhou para um ponto atrás de nós com uma expressão apavorada.

Me virei a tempo de ver um novo perseguidor, muito mais rápido e perigoso que os navios aranha dos neogi.

Com o casco negro e oleoso, uma enorme concha espiralada e uma proa de tentáculos afunilados que se retesavam enquanto ele acelerava em nossa direção para nos abalroar.

Não tive tempo de pensar. Teria sido a morte de todos nós.     Minha mão pegou a flecha de penas vermelhas e eu pronunciei um comando enquanto retesava a corda do arco. A flecha se incendiou instantaneamente e deixou um surco luminoso enquanto desenhava uma parábola perfeita em direção à rota do nautiloid dos Devoradores de Mentes.

Todos sabiam o que ia acontecer e procuraram cobertura, exceto o mago que permanecia imóvel, concentrado em nos tirar dali.

A flecha flamejante saiu da bolha de ar ao redor do nosso navio voador e entrou em contato com o vapor fantasmagórico de phlogiston. O universo explodiu em chamas.

A bola de fogo lambeu a popa do nosso navio varrendo tudo o que estivesse solto no convés e engoliu o nautiloid. Não tive tempo de comemorar, o corpo de um umber hulk voou pra cima de mim e me arrastou rodopiando por cima da amurada para… baixo… vi o navio se afastando cada vez mais rápido, enquanto o mago consumia suas magias mais poderosas para fazê-lo acelerar. E então, o frio e o vazio do espaço me envolveram…

Numa era maluca conhecida como Os Anos 80, a frase “mas que ideia imbecil!” estava absolutamente proibida nos domínios da TSR (Tactical Studies Rules) e assim, coisas maravilhosas (e discutíveis) aos montes chegaram às mãos de fãs ávidos por novidades para ampliar as possibilidades dos seus jogos de fantasia. Entre terror gótico (Ravenloft), Dragões a dar com pau (Dragonlance), e Lawrence da Arabia encontra Elminster (Al Qadim), chegou o inacreditável SpellJammer, o suprassumo da demência adolescente!
Sim, Dungeons and Dragons no espaço!!!

spelljammer
Mantendo as mesmas premissas que os settings mais tradicionais, temos a experiência medieval fantástica mas pondo em primeiro plano as viagens. Em vez de resolver tudo magicamente com um portal que levasse os personagens de um extremo a outro do universo, os heróis deveriam percorrer o trajeto em navios mágicos propelidos por mecanismos misteriosos e enfrentando perigos como beholders errantes, escravagistas, frotas em guerra vagando pelas fronteiras incertas de civilizações galácticas, navios tripulados por piratas zumbis (quem imaginaria que Piratas do Caribe pegaria a ideia depois?) e as estrelas desse setting, os sinistros Ilithids, os Devoradores de Mentes. Cada raça tradicional de D&D, elfos, anões, orcs, humanos, tinha seus próprios veículos que refletiam suas características e dava um colorido especial ao cenário. Os elfos possuíam enormes e delicados navios que imitavam a forma de insetos ou aves; os anões construíam fortalezas errantes e os humanos, bem, barquinhos bem tradicionais, como galeões.

O espaço percorrido pelos navios mágicos não está vazio, senão que é preenchido por um gás misterioso conhecido como Phlogiston, que forma correntes que podem encurtar as viagens entre os mundos espalhados pelo universo. Mas o Phlogiston também oferece grandes perigos: é agitado por tempestades devastadoras que se extendem por distâncias inacreditáveis, é irrespirável e… inflamável… (bwahahahaha…)

Spelljammer é um dos mais inspirados settings e um dos que reflete a preocupação de oferecer regras consistentes, críveis e uma erudição absurda que chega ao ponto de representar todas as teorias planetárias conhecidas (e um monte de outras inventadas na loucura) nos diferentes sistemas estelares oferecidos na caixa básica, que são basicamente, todos…

Sim, porque a primeira razão de ser de SpellJammer é oferecer uma forma prática e consistente de viajar entre os diferentes mundos de D&D. Um grupo de aventureiros de Forgotten Realms poderia dar um pulinho em Greyhawk, para apanhar da lendária (e linda!) bruxa Iggwilv; ou se aventurar em Dark Sun para pegar um bronzeado de surfista.

E, claro, não poderia faltar, uma enooooorme masmorra a desbravar…

O SpellJammer, que dá o nome ao cenário! Uma gigantesca embarcação com forma de arraia, coroada com uma cidadela misteriosa e deserta cujas entranhas escondem tesouros inimagináveis… e o maior de todos? Controlar a maior e mais poderosa fortaleza espacial do universo… Essa misteriosa estrutura, construída num passado esquecido por uma civilização desconhecida, singra os espaço numa rota errática com um propósito que só é conhecido dos deuses… mas a sua aparição sempre anuncia grandes acontecimentos ou terríveis catástrofes…

the-spelljammerO universo de SpellJamer está pontilhado de mundos famosos e outros ainda desconhecidos (sim, pode colocar o que quiser lá, inclusive o meu favorito: o planeta praia), envoltos em gigantescas esferas mágicas de cristal, eles vagam pelo infinito aguardando a chegada de heróis!

No próximo post, detalhes do setting!

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Resenha

By Blade and Claw – Novas opções para classes selvagens

Eu me movia buscando a cobertura das árvores e mudando a direção da corrida a cada poucos metros. Linhas de luz púrpura relampejavam ao meu redor, desintegrando a vegetação e provocando explosões ensurdecedoras. Meu instinto gritava para que eu fugisse o mais rápido possível, mas precisava ganhar tempo.

– Dance, dance!!! – gritava o Mago Vermelho em meio a gargalhadas -. Quer dançar? Vou lhe ensinar o estilo de Thay!!! O ar à sua frente tremeluziu enquanto uma série de relâmpagos saia de seus dedos estendidos e queimava o chão à centímetros de mim. Tentei esquivá-los rodopiando no ar, quicando nos grossos troncos dos carvalhos da Floresta dos Wyrms. Um … dois … três deles falharam mas então  o mundo explodiu numa luz branca e minha perna se tornou pura dor.

Caí estatelado no chão envolto em fumaça e o fedor de carne queimada. Lutando para manter a consciência, retesei o arco e lancei duas flechas simultâneas. Inútil. A ventania mágica que acompanhava os passos do mago vermelho as desviou e as enviou rodopiando para longe.

– Desprezível… – o seu rosto era uma máscara de arrogância- seu amigo Mago não resistiu mais do que poucos momentos. O Paladino já deve ter sucumbido à minha legião de mortos-vivos. O quê o fez pensar que um semi-selvagem como você seria páreo para um aristocrata de Thay?

– N… nunca pensei isso… – tossi um pouco de sangue na grama queimada – só precisava distrair você um pouco…

O intelecto treinado durante décadas nas astúcias da corte da magocracia detectou o erro instantaneamente. Mas já era tarde…

– OOOOOWRRRHHHH!!!!!!!!

Quinhentos quilos de músculos e penas caíram sobre o desgraçado antes que tivesse tempo de se virar. O corpo franzino bateu com força no chão e ficou à mercê das afiadas garras do urso-coruja que golpeavam uma e outra vez arrancando pedaços de veludo vermelho primeiro e grandes pedaços de carne depois.

Um anel de ouro com o selo da Corte de Thay caiu perto de mim. Tinha um dedo preso ainda.

– Ranger… pelos deuses… – o Paladino chegou mancando da floresta. A armadura prateada estava amassada e coberta de respingos de sangue negro e com placas faltando. Ele havia perdido o elmo e tinha arranhões sangrentos no rosto -. Achei que ele tinha matado você. Foi um excelente plano.

– A ideia foi dele – apontei com a ponta do arco para o urso coruja que ainda arrastava o que havia restado do mago vermelho de um lado para o outro,  farejava o corpo e o cutucava com o bico, desconfiado.

By Blade and Claw
Crédito Cláudio Pozas

By Blade and Claw é a primeira contribuição do artista e autor brasileiro Cláudio Pozas para a Dungeon Master Guild. By Blade and Claw (Pela Lâmina e pela Garra – BB&C) é um complemento para incrementar e dar mais opções para os fãs das classes “selvagens”: bárbaros, druidas e, claro, rangers!

Na parte dedicada ao Ranger, o material foca no arquétipo Beast Master, caracterizado por uma ligação quase sobrenatural entre o ranger e seu companheiro animal e sua capacidade de atuar em conjunto potencializando suas habilidades. Veremos um novo Estilo de Combate: o Paired Hunting com qual eles trabalham como uma equipe para atacar os pontos fracos de inimigos muito mais fortes do que qualquer um deles por isolado.

By Blade and Claw traz opções para quem quiser, por exemplo, abrir mão das magias de Ranger e trocá-las por habilidades mais “práticas” e mundanas associadas à ligação da classe à natureza e focando na exploração ou no domínio do entorno em que ele se move.

Na seção focada nas opções do Beast Master, BB&C traz dicas para “melhorar a relação” entre a dupla, desde o treinamento até como lidar com crises que podem surgir durante momentos de tensão nos quais um animal selvagem fugiria imediatamente. Essas dicas podem servir, por exemplo, para um personagem de qualquer classe que desejar criar o filhote de uma besta selvagem e domesticá-la para que o acompanhe nas suas aventuras, eles não terão a ligação sobrenatural característica de druidas e rangers mas podem ter um aliado muito útil com o treinamento certo.

Além disso, temos uma seção de Feitiços com o tema selvagem: Bonding Spells, os quais servem para criar uma ligação mágica com um animal aumentando/trocando as habilidades do lançador e da fera e permitindo “truques” bem criativos…

Como estamos falando de um suplemento focado no uso de companheiros animais, não poderia faltar o catálogo de novos candidatos, quem nunca pensou em ter um parceiro Velocirraptor??? (sejam sinceros); incluindo animais mágicos e novos animais bem bacanas como o Fey Panther, sério que bicho bonito…

Colher de chá

Com autorização do autor, incluo neste artigo uma nova magia de ranger para os leitores deste blog lendário:

Tiro do escorpião


Conjuração de 1º Nível

Tempo: 1 ação

Alcance: Ver abaixo

Componentes: V, M (uma arma de ataque a distância)

Duração: Instantânea

Você convoca um espírito menor de um escorpião para complementar o seu ataque a distância. Como parte da ação usada para ativar a magia você deve fazer um ataque a distância contra uma criatura dentro do alcance menor da sua arma, do contrário, a magia falha. Num acerto, o alvo sofre os efeitos normais do ataque, um adicional de 1d8 de dano de veneno e deve realizar um Saving Throw de Constituição. Se falhar, ficará envenenado até o final de seu próximo turno.

Em níveis superiores. Quando você lança esta magia usando um slot de segundo nível ou superior, o dano de veneno aumenta 1d8 por cada slot acima do 1º.

By Blade and Claw está a venda em versão digital na loja da Dungeon Masters Guild por $5,99 AQUI. Com 14 páginas recheadas de informação e a arte original do Cláudio Pozas, é um investimento super garantido para incrementar a sua classe “selvagem” e tem ideias bem legais para incluir na equipe um animal criado desde filhote, afinal de contas, se você entrar na taverna com um tigre dentes de sabre, isso deve ter alguma consequência!

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Stranger Things: Quem diabos é Demogorgon?

A excelente série Stranger Things, da Netflix, criou uma onda nostálgica no público tocando temas caros à nossa infância (especialmente os desajustados conhecidos como nerds, quando isso ainda era xingamento) e pôs na boca do público o curioso nome de Demogorgon, apresentado como uma presença sinistra que parece habitar entre a realidade e a fantasia das crianças que movem a história.

Mas quem diabos é Demorgorgon? Na verdade, ele é um demônio, ou Lorde Demônio do Abismo, uma das criaturas mais poderosas e apavorantes da mitologia de Dungeons & Dragons, cuja mera presença espalha a insanidade corrompendo o próprio tecido da realidade!

DemogorgonRising_TH

História do bicho

Demogorgon, o Príncipe dos Demônios (autoproclamado e disputando o título com os Lordes Demônios Orcus e Graz’zt…) faz parte de D&D desde tempos imemoriais. Sua primeira aparição aconteceu no suplemento Gaygaxiano Eldritch Wizardry (complemento para a venerável caixa branca original – ou D&D Zero Edition), quando se introduziram os demônios no jogo (o que causou muitos problemas…) e elementos que acompanharam todas as seguintes encarnações de D&D como Orcus e O Cajado das Sete Partes (se alguém conhecer uma tradução melhor que “vara”, agradeço…) reformulados na 4ªEd e atualizados novamente na 5ªEd incorporando elementos novos e clássicos.

Como muitos outros elementos criados pelo grande Gygax, no início Demogorgon era apenas um nome puxado de algum lugar e adaptado para ser colocado no jogo sem muito contexto. Se pesquisarmos na mitologia, Demogorgon descobriremos que ele era um demônio da antiguidade citado em obras como O Paraíso Perdido, de John Milton no inventário dos anjos caídos com Lúcifer.

Na mitologia de D&D, ele é um demônio do Abismo, um plano de caos e maldade absolutos. Maaaaaas, por causa das encrencas com grupos religiosos que começaram a hostilizar o jogo ainda na década de ’80 quando o D&D se popularizou entre jovens e adolescentes, os Demônios (Caos/Abismo) foram rebatizados Tanar’ri e os Diabos (Ordem/Nove Infernos) de Baatezu.

DemogorgonA aparência de Demogorgon espelha bem a Primeira Era de D&D, onde bastava misturar alguns bichos e fazer os jogadores gritarem bem alto… (ninguém fala nada do Urso Coruja!!!)
Demogorgon tem mais de cinco metros de altura (Grande pra Enorme). Com duas cabeças de babuíno, corpo alongado e reptiliano, pescoço serpentino, tentáculos, pernas de réptil e duas caudas… Caramba!!! Nem a mãe dele deve ter amado!!! Na verdade, contam as lendas que ele teve… duas mães!!!! Vivam com isso!

A brincadeira não acaba por aí… O maior segredo de Demogorgon é que cada cabeça possui sua própria personalidade: Aameul e Hethradiah, e por causa da natureza destrutiva dos demônios, cada uma delas fica arquitetando planos para destruir a outra e se libertar! (ou não… quem entende Demogorgon???). Os planos de Demogorgon são frequentemente esquizofrênicos e contraditórios pois cada cabeça pode eventualmente esconder planos da outra e os cultistas tem que se virar para cumprir seus objetivos (quem mandou?!)…

Demogorgon é o autoproclamado senhor das bestas selvagens, malignas e degeneradas, a Besta Sibilante. Não é um “deus verdadeiro”, porém. Entre seus cultistas se encontram seres malignos, loucos e maníacos do pior tipo que se regozijam nos atos mais vis e incompreensíveis. Na 3ª edição, no Book of Vile Darkness, encontramos o seguinte camarada: Quill, meio elfo, ladino. É um psicopata, estuprador e necrofílico. Tem que ter estômago, pessoal.

Os cultistas de Demogorgon especialmente devotados (seja lá o que isso signifique e, com certeza, não pode ser coisa boa pra nós) podem receber uma benção na forma de um membro transformado em tentáculo (valeu, era tudo o que eu queria…) além de poderes e ataques especiais. Normalmente são párias e trabalham sozinhos mas podem reunir uma seita. Se puderem, vão tentar destruir outros cultistas já que eles estão sempre sob ordens contraditórias e perseguindo objetivos de uma ou outra personalidade de Demogorgon.

Ele é o senhor de um domínio dual no Abismo: a Floresta Ululante (90ª camada) uma selva tropical aparentemente infinita cheia de doenças horríveis e povoada por criaturas primitivas e bestiais; e o Precipício (88ª camada) um mar turbulento alimentado pelo Rio de Sangue e drenado pela Cascata de Sangue (adivinhem do que é o mar…) e percorrido por criaturas ciclópeas. No fundo do mar, Dagon espreita… No começo da existência do Abismo, ele desafiou Demogorgon pela supremacia, mas agora parece se curvar (sim, eu sei, cadê a camada 89º?! perguntem para o Demogorgon, não duvido que ele tenha comido).

Como é um personagem que tem acompanhado D&D desde seus primóridios, Demogorgon sofreu muitas mudanças enquanto o jogo evoluia. De um tanar’ri até a 3ªEdição, ele passou a ser um Primordial na 4ª. Ele foi mais detalhado nos artigos da antiga Dragon Magazine através das páginas do Demonomicon da bruxa lendária Iggwilv. São especialmente recomendados a Dragon 357 e a edição gêmea, Dungeon 120. A Dungeon 150, tem uma aventura épica e provavelmente suicida para enfrentá-lo encerrando a 3ªed.

Sem título
Até a 3ª Edição, ele era um tanar’ri imensamente poderoso, mas que não conseguia sobrepujar seus rivais Orcus e Gratz’z. Na 4ª Ed. ele foi ascendido a Primordial, as manifestações elementais da Criação antes dos Deuses Celestiais. Assim como os outros Primordiais, ele era um ser amoral mas supremamente poderoso. Com a corrupção do primordial Tharizdun pela Estilha do Mal (um objeto de absoluta maldade originado em um universo moribundo), a conflagração da Guerra da Alvorada e a criação do Abismo vários Primordiais lutaram pela posse da Estilha e nesse processo foram se tornando criaturas essencialmente malignas, e ainda mais poderosas. Entre elas Demogorgon, Orcus e Dagon. Na luta pela supremacia, a Estilha foi perdida nas profundezas do Abismo e o desejo de possui-la devora todos eles, assim como o medo de ser dominados por sua vez pela vontade desse artefato que busca corromper todas as coisas.

Na 5ªEd, Demogrogon foi novamente atualizado, ele agora é um Demon Lord, eles são seres ligados à caótica e maligna dimensão do Abismo e com poder equivalente aos deuses. Demogorgon está associado à loucura, sua presença (assim como a dos demais Demon Lords) lentamente espalha a corrupção e a insanidade por onde ele passa e todos os seus seguidores lentamente se tornam insanos (mas já não eram quando toparam ser seguidores dele???). Demogorgon faz a sua estréia em D&D 5ªEd na iniciativa Rage of Demons, e aparece com toda a sua glória na campanha Out of the Abyss, chegando ao Underdark de Faerun graças a uma megaburrada do arquimago drow Gromph Baenre.

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Fatos curiosos

O Book of Vile Darkness da 3ª ed. provocou uma senhora polêmica quando apresentou Demogorgon com cabeças de hiena. Os puristas e fãs mais exaltados fizeram tanto barulho por essa alteração que o próprio autor, Monte Cook, um dos principais autores de D&D, teve que dar a cara a tapa perguntando se o diabo das cabeças de babuíno eram sagradas. Tomou tapa aos montes porque, sim, é importante!!!! Faz parte da coerência interna e da história de D&D! Na 4ªEd. temos o prazer de contemplar essas duas belas cabeças simiescas (babuinos são simios?) na capa do Monster Manual II que trouxe atualizações de outras edições e monstros especialmente medonhos…

Para os amantes de videogames (Cuidado spoiler de Baldur’s Gate 2 vindo!), Demogorgon é a ameaça final de Baldur’s Gate II. Os heróis podem encará-lo com grandes chances de morrer ou soltá-lo no mundo para completar sua ascensão à divindade.

Demogorgon foi escolhido na Dragon Magazine 359 (a última edição física) como um dos vinte maiores vilões de D&D de todos os tempos. Ficou com o 16º posto em escala descendente, perdeu para monstros (rá) sagrados como Vecna, 17º; Loth (segura essa!!!) 18º; Tiamat e o Conde Strahd Von Zarovich. Então, moleques, peçam ao mestre para incluir nosso amiguinho acima. E morram gritando…

Este artigo não tem a pretensão de ser exaustivo ou completo. Complementem, discutam e xinguem à vontade.

   Heil, Demogorgon!!!

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Fontes:

Demonomicon.
Book of Vile Darkness (3ª)
Monster Manual (várias edições)
Manual dos Planos.
Out of the Abyss – Resenha do módulo de D&D 5E.
Muita Internet

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Dating Brünhild, conquistando o coração de uma gigante de fogo!!!

Mais um artigo apresentando uma visão um pouco diferente dos gigantes de Dungeons and Dragons enquanto nos preparamos para a chegada da campanha Storm’s King Thunder! Neste artigo, os herois terão que viajar até a Montanha do Penacho Branco par ajudar a unir um casal de gigantes apaixonados…

 

Entrando de fininho

Rangers não costumam ser convidados para cerimônias reais, por isso eu havia passado uma semana me esgueirando pelos cantos da Montanha do Penacho Branco. Estava coberto de fuligem, desidratado e à beira do esgotamento. Meus mantimentos se esgotaram dias atrás. Vivia de lamber a água que pingava das paredes e de cogumelos que achava aqui e ali. Sei diferenciar os comestíveis graças a uma temporada que passei num parque de diversões dos drow (só os drow se divertem neles). Mas havia valido a pena, estava sobre uma plataforma de rocha que permitia ver o Grande Salão dos Gigantes de Fogo. A sala estava lotada, e quente como o Inferno (não é força de expressão, já fui lá uma ou cinco vezes), graças a torrentes de lava que brotavam do chão. Dezenas de gigantes se enfileiravam com as suas melhores armas e armaduras observando a entrada do príncipe Wärbel que chegava  cavalgando um besouro de fogo do tamanho de uma casa.

Na plataforma do trono, a princesa Brünhild observava o pretendente com uma expressão feroz enquanto pegava a maça estrela das mãos do seu capitão, Ortwin. Entre os gigantes de fogo, as governantes são raras e as tradições proíbem que recusem pretendentes. Essa era a terceira proposta dessa estação e Wärbel parecia convencido de que ia ganhar a mão da princesa…

-Brünhild! Prepara-te para aceitar o meu amor!! – meu domínio da língua gigante não era lá essas coisas, mas eles não eram conhecidos pela sofisticação do discurso. O príncipe desceu da montaria e se aproximou do centro do salão exibindo com orgulho as armas que havia forjado para esta ocasião.

-Wärbel! Te provarás digno de uma donzela guerreira ou cobrirás o teu clã de vergonha? – Brünhild avançou com a graça característica das gigantes de fogo, nenhuma, coberta com uma malha de escamas de dragão dourado resplandecendo à luz da lava.

Wärbel avançou imediatamente correndo em direção à sua amada enquanto sua espada de ferro incandescente silvava no ar. Brünhild girou o corpo para evitar o golpe brutal e usou o movimento para dar velocidade à sua maça. Wärbel estava desequilibrado, ainda assim, conseguiu levantar o escudo para se proteger do golpe. Mas a magia que Brünhild havia infundido na sua arma era poderosa demais. As runas refulgiram furiosamente e a maça destroçou o escudo, o elmo, e transformou a cabeça do pretendente numa nuvem avermelhada que formou um arco-íris sinistro à luz do magma.
Brünhild se virou para voltar ao trono deixando a maça nas mãos prestativas de Ortwin, com um olhar ardente e se sentou em silêncio. Em algum lugar, alguém soltou o maior elogio que um gigante de fogo pode dedicar a uma fêmea da espécie:

-Essa não casa mais…

Olhei novamente para o capitão Ortwin que, ao lado do trono, se esforçava para ocultar o nervosismo e balancei a cabeça tentando conter o desânimo… Como diabos eu ia ajudar aquele imbecil a conquistar o coração ardente de Brünhild?

brunhildCom o Ordening, o sistema sagrado de hierarquias dos gigantes suspenso pelos deuses, diferentes clâs correm para unir forças ou ajustar contas, ameaçando os reinos humanos vizinhos com a guerra e o caos. Mas mesmo nesse panorama, pode florescer o romance…

Entre os gigantes de fogo, a habilidade de forjar armas e armaduras e a maestria em combate são prezadas sobre tudo o mais. Praticamente tudo na sociedade deles se resolve na base da porrada. Inclusive relacionamentos…

Para conquistar uma parceira, um pretendente deve vencê-la em combate, mostrando assim o seu merecimento.

A aventura

Os aventureiros foram contatados secretamente por um emissário dos gigantes de fogo da Montanha do Penacho Branco (go, grognards!). Ele busca mestres de armas capazes de desenvolver técnicas de luta que permitam derrotar a maior guerreira do clã: a princesa Brünhild!

E quem teria enviado esse emissário com essa missão tão desconcertante?

Pois, a própria Princesa Brünhild que suspira de amor pelo seu Capitão da Guarda Real, Ortwin, mas sabe que ele não tem a menor chance contra ela num mano a mano…


BRUNHILD, a princesa durona

Huge giant, Lawful Evil


  • Armor Class 22 (scale mail)
  • Hit Points 190 (13d12+65)
  • Speed 40ft.

STR DEX CON INT WIS CHA
26
(+7)
12
(0)
24
(+5)
10
(0)
15
(+2)
13
(+1)

  • Saving Throws Dex +5, Con +11, Cha +5
  • Skills: Perception Athletics +12, Perception +6
  • Damage Inmunities  Darkvision 60ft., passive Perception 14
  • Senses  passive Perception 16
  • Languages Giant / Common
  • Challenge 10 (5,900 XP)

Actions

Multiattack. Giants make two mace attacks.

Mace. Melee Weapon Attack: +12 to hit, reach 15ft., one target. Hit: 42 (7d6+12) bludgeoning damage. Crit. 20 Vorpal

Magma Rock. Ranged Weapon Attack: +12 to hit, range 60/240 ft., one target. Hit: 32 (4d10 + 9) bludgeoning damage + 1d6 (fire).

A missão de vocês, se decidirem aceitá-la, é encontrar a forma de observar a princesa lutando e aprender o bastante para preparar o capitão panaca para uma luta na qual o resultado não seja ele transformado em uma mancha vermelha no chão, porque Brünhild não vai facilitar pra ninguém…

Se tudo der certo, Ortwin poderá entrar na batalha com itens mágicos adequados e vantagens em certas jogadas a serem usadas em momentos críticos, ou uma boa e velha trapaça a gosto do grupo, como armadilhas, armas que quebram ou poças de óleo escorregadio convenientemente distribuídas pela arena (óleo é inflamável, claro, mas vamos deixar os aventureiros descobrirem isso na hora em nome da diversão). As paqueras de gigantes de fogo é coisa séria, se a princesa for reduzida a 1/4 dos pontos de vida vai reconhecer o mérito do pretendente.


Ortwin, pretendente tímido

Huge giant, lawful evil


  • Armor Class 18 (plate)
  • Hit Points 162 (13d12+78)
  • Speed 40ft.

STR DEX CON INT WIS CHA
25
(+7)
9
(-1)
23
(+6)
10
(+0)
14
(+2)
14
(+2)

  • Saving Throws Dex +3, Con +10, Wis +5
  • Skills: Perception Athletics +11, Perception +6
  • Senses  Darkvision 60ft., passive Perception 16
  • Languages Giant
  • Challenge 9 (5,000 XP)

Actions

Multiattack. Giants make two greatsword attacks.

Greatclub. Melee Weapon Attack: +11 to hit, reach 10ft., one target. Hit: 28 (6d6+7) slashing damage.

Magma Rock. Ranged Weapon Attack: +11 to hit, range 60/240 ft., one target. Hit: 29 (4d10 + 7) bludgeoning damage + 1d6 (fire).


Reactions

Rock Catching. If a rock or similar object is hurled at the giant, the giant can, with a successful DC 10 Dextery saving throw, catch the missile and take no bludgeoning damage from it.

Esclarecendo… gigantes de fogo são Lawful Evil, respeitarão contratos mas podem fazer coisas muito desagradáveis em todo o resto da relação com os aventureiros. Diamantes do tamanho de porcos foram mencionados pelo emissário.

Este artigo é pra quem fala que D&D não tem romance.

Nota: os nomes foram roubados do livro O Anel dos Nibelungos (fikadika)

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Archaedas, um gigante em busca de inspiração

Os relatos da violência e selvageria dos gigantes de pedra são conhecidos por todos. Mas o que poucos sabem é que os ferozes gigantes que lançam enormes pedras contra viajantes desatentos ou aventureiros atrevidos são, na verdade, brutos e marginalizados na sua sociedade, desprezados por sua falta de graça e talento para trabalhar a pedra nos sofisticados salões secretos do seu povo, são considerados pouco mais do que cães de guarda das cidadelas e descontam a sua frustração sobre os “baixinhos”.

Nas últimas semanas, entretanto, a devastação dos gigantes escalou de uma forma surpreendente… os gigantes não ficam mais nas empinadas encostas onde se ocultam as suas trilhas secretas, mas uma companhia inteira deles avança pela floresta deixando um rastro de caos entre seus esparsos habitantes e se aproxima das vilas desprotegidas. O motivo?

Stone_Giant_Subsection_Hero_Image

Este é um ensaio de aventura que possa ser resolvida de forma não convencional, com conversa e exibições de habilidades. Espero que gostem!!!!

Um gigante em busca de inspiração.

Archaedas é o mais exímio escultor entre os gigantes de pedra.
Entre esse povo, sua habilidade se tornou lendária e Archaedas foi eleito regente de sua comunidade, ele é considerado a reencarnação do próprio Skoraeus Stonebones. Suas esculturas tiram o fôlego dos mais sensíveis artistas e eles dizem que nunca ninguém foi capaz de revelar a essência da pedra como Archaedas. Suas obras decoram os salões secretos, seus baixos-relevos contam a genealogia dos gigantes até a aurora do mundo e seu cinzel beija a pedra fazendo que ela se curve dócil a sua genialidade. Todos amam Archaedas.

Mas Archaedas está insatisfeito. Depois de produzir algumas das maiores obras de arte da história dos gigantes de pedra, ele sentiu que a chama da sua inspiração está se extinguindo. Suas mãos se movem com a mesma graça, mas ele julgou os resultados apenas medíocres e, com frequência foi tomado pela cólera impotente e reduziu a pó obras que valeriam o resgate de um rei.

Frustrado, o pensamento de Archaedas foi pouco a pouco sendo atraído pelos mistérios da superfície. O “Mundo de Fora” é uma terra mágica e etérea, cheia de ilusões maravilhosas, será que uma temporada de descanso nas terras do sonhar poderiam restaurar a sua inspiração e fazê-lo criar coisas maravilhosas e delicadas outra vez? Archaedas tomou a sua decisão e partiu na sua jornada, mas os seus irmãos ordenaram que os guardiões mais fortes o acompanhassem e cuidassem de sua segurança. Se alguma coisa de ruim acontecesse à reencarnação de Skoraeus Stonebones a fúria dos gigantes faria a própria terra estremecer!


Enquanto esse artista da pesada busca sua inspiração, doze guardiões, gigantes de pedra o acompanham correndo pela região e arrasando com tudo o que eles consideram uma ameaça a seu maior artista (tipo, tudo). Um grupo de heróis poderia, com dificuldade lidar com esses guardas brutos, mas Archaedas é outra história, ele não lutará mas, convencido de que tudo que vê é apenas um sonho extravagante e decidido a experimentar algo que o comova profundamente, também não desejará retornar para casa. Se ele continuar a sua viagem, um acidente ou um confronto é apenas questão de tempo, e toda a região estaria sujeita à ira dos gigantes.

Será que os heróis embainharão as espadas e buscarão uma solução alternativa? O que poderia despertar a inspiração de Archaedas, acender novamente a chama da sua genialidade e convencê-lo a voltar para o seu ateliê?

Dicas da aventura

Os aventureiros devem ter acesso a informação consistente sobre gigantes de pedra para saberem que o comportamento destrutivo que eles estão exibindo não é normal. Um NPC merchant (tem que fazer biquinho) chamaria todo mundo de brutos e ignorantes ao proporem uma “aproximação padrão” (padrão D&D!!!) ao problema e poderia sugerir uma abordagem baseada na oratória (na 5ªEd ainda tem aquele… como chama mesmo… bardo???)


ARCHAEDAS

Huge giant, neutral


  • Armor Class 18 (natural armor)
  • Hit Points 142 (11d12+55)
  • Speed 40ft.

STR DEX CON INT WIS CHA
23
(+6)
19
(+4)
20
(+5)
15
(+2)
15
(+2)
11
(0)

  • Saving Throws Dex +7, Con +8, Wis +5
  • Skills: Perception Athletics +12, Perception +6
  • Senses  Darkvision 60ft., passive Perception 14
  • Languages Giant / Common
  • Challenge 7 (2,900 XP)

Actions

Multiattack. Giants make two greatclub attacks.

Greatclub. Melee Weapon Attack: +9 to hit, reach 15ft., one target. Hit: 19 (3d8+6) bludgeoning damage.

Rock. Ranged Weapon Attack: +9 to hit, range 60/240 ft., one target. Hit: 28 (4d10 + 6) bludgeoning damage. If the target is a creature, it must succeed on a DC 17 Strenght saving throw or be knocked prone.


Reactions

Rock Catching. If a rock or similar object is hurled at the giant, the giant can, with a successful DC 10 Dextery saving throw, catch the missile and take no bludgeoning damage from it.

Durante uma luta contra um dos guardiões, ele poderia proferir um discurso inflamado deixando claras as consequências de machucar Archaedas e, inclusive, revelar que ele não é maligno nem pretende machucar ninguém.

Enfrentar os guardiões seria uma proeza e tanto mesmo para um grupo de aventureiros veteranos mas impedir que Archaedas seja ferido na luta seria quase impossível. Jogadores espertos (sim, dizem que eles existem) poderiam tentar se infiltrar entre os guardiões e alcançar Archaedas para tentar convecê-lo a partir com conversa, demonstrações de habilidades e talentos extraordinárias e criativas, por exemplo, até que ele se dê por satisfeito e rume de volta para casa deixando algumas esculturas como recompensa.

Aqui temos a ficha de Archaedas para o caso de realmente terem que brigar com ele…

Nota de rodapé: Me propus escrever um artigo focado em cada tipo de gigante destacando suas características, os gigantes de pedra foram um osso duro de lascar porque o lore deles, baseado na concepção de que o mundo lá fora é apenas um sonho não se presta para a boa e velha pancadaria de D&D. Considero este artigo aberto e aguardo sugestões para deixá-lo mais redondo e com cara de aventura!